Naquela altura, íamos à baixa à quinta feira de tarde, às compras.
Era sempre uma odisseia, sacas, ceiras, e não haviam mãos para segurar sacos de tantas compras.
Atravessávamos ali à frente porque andar a descer e a subir escadas para atravessar a praça era para os velhinhos, e muitas vezes tivemos que correr à passagem do Trolley.
Comprávamos legumes, fruta, queijo, nozes, pão, chouriços, às vezes polvo congelado, feijão, alhos, carne de porco (na salsicharia do Leandro), café, iogurtes, vinho, manteiga, quase tudo o que precisavas para cozinhar. Dizias que era mais barato do que o supermercado e a lojinha que haviam onde morávamos. Dizias que tudo era melhor, e eu, detestava aquelas tardes, o ter que dar um beijinho à senhora ou ao senhor que já conhecias há anos e que eu nunca tinha «visto mais gordo», o esperar que acabasses as tuas conversas que para mim não tinham interesse nenhum, a bicha para o autocarro, o por favor deixem passar os sacos, o autocarro em dias de chuva «à pinha» e tu a insitires para que entrássemos porque já era tarde e de noite.
Tenho tantas lembranças daquelas tardes, das más que enuncio, rio-me agora e percebo-te tão bem.
Tantas lembranças...da perfumaria, do morgado, do Bolhão, da casa chinesa, da senhora dos alhos que perguntava sempre pela mãesinha porque era da mesma zona da minha avó, do talho, dos porfírios, da emerua, dos folhados de maçã da brasileira, da laranjina C da Ateneia, dos botões para as minhas batas, da rua da fábrica, do dentista na Rua de Ceuta e da minha vontade de ir à Sincelo comer um gelado e nunca íamos porque eram muito caros...tantas, tantas lembranças me vieram à cabeça assim que vi esta foto.